Relações comerciais entre o Brasil e a China
Antes de se atentar para a disputa por mercado chinês, por Rússia e Brasil, como efeito da guerra que acontece atualmente na Ucrânia, é preciso resgatar alguns pontos-chave das relações comercial entre o Brasil e a China. Para tanto, é necessário que se tome como ponto de partida o fato de que a China consiste no principal parceiro comercial do Brasil. Nesse sentido, o país asiático aparece como uma das potências mais relevantes para a balança comercial brasileira, graças à sua realidade de maior comprador e investidor direto no Brasil.
Dentre os aspectos mais importantes dessa relação, destaca-se a centralidade das commodities, uma vez que o Brasil possui uma alta produção das mesmas no âmbito agrícola, com destaque para o café, a laranja e a soja. Além disso, no segmento agropecuário, o Brasil também ganha vantagens nas exportações para a China, para onde vende, sobretudo, carne de frango, extração mineral e insumos do ramo petrolífero.
Outro aspecto central a ser ressaltado diz respeito à existência do BRICS, que se trata de uma aliança entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul cujo objetivo se concentra em alavancar a influência geopolítica desses país no mundo. Dessa forma, o grupo se diferencia da estrutura de blocos econômicos como a União Europeia, que possui um estatuto formalizado com regras e princípios a serem seguidos peças nações-membro. Ao contrário, o BRICS, que teve sua primeira Reunião de Cúpula em 2009 e, em 2010, recebeu a África do Sul como membro, concentra-se em pautas que giram em torno do crescimento econômico e social dos países-membros, assim como a discussão de elementos pertinentes à segurança, meio-ambiente, pobreza e comércio.
Relações comerciais entre Brasil e Rússia
Ainda antecedendo a discussão acerca da disputa por mercado chinês entre Rússia e Brasil, importa entender de que maneira as relações comerciais entre ambos os países ocorre. Em primeiro lugar, a Rússia é o sexto país de quem o Brasil mais compra produtos: foram US$ 5,7 bilhões em importações em 2021. Nesse sentido, a principal influência do país eurasiano consiste na exportação de adubos e fertilizantes químicos para o Brasil, que correspondem a 60% de tudo o que o Brasil importa de lá.
Atualmente, o Brasil mantém o que se chama de déficit na balança comercial com a Rússia, o que significa que importa seus produtos mais do que exporta para o país. Dentre as principais demandas vindas de lá, estão os insumos agrícolas. Além disso, há também uma relação do Brasil enquanto exportador de produtos à Rússia, em que a demanda cresceu nos últimos anos. Dentre os produtos mais vendidos ao país, destacam-se soja, carne de aves, café e amendoim não torrado e açúcar.
Leia mais em A relação Rússia/Ucrânia e o Comex no Brasil
Disputa por mercado chinês entre Brasil e Rússia
Agora, uma vez resgatados os diferentes cenários pertinentes às relações comerciais entre Brasil e China e Brasil e Rússia, é o momento de debater acerca da disputa por mercado chinês entre Brasil e Rússia. Nesse sentido, o que motiva tal discussão consiste, sobretudo, na atual guerra travada pela Rússia com a Ucrânia, que tem gerado uma mobilização global das relações geopolíticas e econômicas entre os países. Dessa maneira, um dos impactos a serem considerados diz respeito à posição do mercado chinês em relação ao Brasil e à Rússia.
O ponto-chave para compreender em que sentido pode haver essa disputa está em considerar a relevância da China no mercado Brasil. Como já mencionado, o país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil, pois é ele quem mais compra e investe aqui. O que pode ser alterado nesse cenário concentra-se, sobretudo, na maneira como a Rússia passará a figurar no mercado depois das sanções comerciais impostas pelo Ocidente. Nesse sentido, como Rússia e China têm aproximado-se ao longo da guerra travada contra a Ucrânia, há grandes chances de uma possível reviravolta na organização dessas relações.
Em relação ao Brasil, o que mais pode impactar nesse cenário trata-se, justamente, do fortalecimento das relações comerciais entre o país eurasiano e o país asiático, de modo que a Rússia passe a escoar parte de seus cereais para a China. Essa realidade, por sua vez, impacta diretamente o Brasil, pois haverá competição nesse mercado para alguns produtos. Além disso, as restrições impostas à Rússia são vistas, pelo governo chinês, como prejudiciais para o mundo, o que dá pistas a respeito dos futuros posicionamentos do país asiático em relação à Rússia, bem como a forma como poderá vir a estreitar relações com a mesma. Sobre este ponto, importa ressaltar que se trata de uma realidade que já vem sendo evidenciada.
Dessa forma, um dos efeitos gerados pela guerra da Rússia contra a Ucrânia trata-se da disputa por mercado chinês pela Rússia e Brasil. Contudo, é preciso cautela e atenção para acompanhar os reais desfechos das relações, considerando o papel de todas as nações nesse grande tabuleiro econômico e geopolítico que se reconfigura atualmente.
